O Hospital Regional Justino Luz, na cidade de Picos, a 306 km de Teresina, enfrenta sérios problemas e está funcionando com apenas 30% da capacidade. Classificado como de média complexidade, o hospital é referência para atender cerca de 500 mil pessoas de 59 municípios da região de Picos.Quem precisa dos serviços de saúde do hospital reclama da situação. Mesmo com o alto índice de acidentes de moto no Piauí, o Hospital Justino Luz não possui ortopedista e a situação deixa os pacientes indignados. A cozinheira Denise Rocha levou o filho vítima de acidente de moto para buscar atendimento, mas o rapaz agoniza na unidade. 

"É um absurdo. A gente precisa do SUS e não tem como se socorrer com ele. O menino está se vendo de dor e não passam remédio e nem nada. Estou voltando pra casa com ele", desabafou.

A mesma situação é enfrentada pelo estudante Edinaldo Alves, que também sofreu um acidente de moto. Há dois meses ele espera pela realização de uma cirurgia no Hospital Justino Luz.

"Está o mesmo gesso e nem trocar o médico não trocou ainda. Essa atadura fui eu que comprei para poder botar porque nem a atadura eles dão, comprei com meu dinheiro para por em cima porque já estava sujo. Ficam só encaminhando de um médico para outro e não é atendido. Se não tiver dinheiro morre", lamenta o rapaz.

A situação precária do hospital chamou a atenção do Ministério Público do Estado Piauí. O órgão apura indícios de irregularidades envolvendo a falta de leitos, de médicos e a compra de medicamentos para o hospital.

"Essa precariedade inclui todos os aspectos. Desde o atendimento inicial até o medicamento que falta e os leitos que faltam. São muitas questões que foram levantadas, muitas irregularidades que estão sendo constatadas e que provavelmente vá desaguar numa ação civil pública", disse a promotora Micheline Serejo.

O gasto mensal do hospital chega a R$ 3,4 milhões. A Secretaria de Saúde do Piauí (Sesapi) pretende reverter o quadro com a mudança de comando no hospital. Uma organização social da Bahia é quem vai gerenciar a unidade de saúde. De acordo com o secretário Francisco Costa, o hospital sairá do patamar de 80 para 350 cirurgias.

O Sindicato dos Servidores do Hospital não concorda com a mudança e contesta a iniciativa do governo. "O que você vê são portas fechadas, nenhuma explicação e todo mundo calado. É como se uma organização que vem tomar conta do hospital fosse fazer um milagre de salvar uma coisa que é falida", disse Eliete Pereira, diretora do sindicato.

Os médicos também são contra a medida da Sesapi e recorreram ao Ministério Público para tentar barrar o processo. “Se a estrutura física é pública, se os funcionários são públicos, o dinheiro é público para administrar aquele hospital. Por que tem que ser entregue a uma OS? Entregue a um órgão privado?”, pontuou Lúcia Santos, presidente do SIMEPI.

A promotora do caso adiantou que pelo pouco que foi analisado já dá para se ter uma noção de que as coisas estão irregulares.

Os médicos iniciam a partir desta quarta-feira (30) uma paralisação das atividades no hospital Justino Luz.