É, no mínimo, lamentável que um vereador, eleito representante do povo, queira de forma irresponsável, inconseqüente e acovardada, atribuir aos médicos a culpa pela situação de calamidade nos hospitais da rede municipal. Ora, os poucos médicos que se sujeitam a trabalhar nessas unidades de saúde vivem uma excessiva carga de trabalho, tendo que atender até mais de 100 pacientes por plantão, com um salário inicial de pouco mais de R$ 1.200,00 (hum mil e duzentos reais). E o pior, ainda sujeitos a sofrer agressões verbais e até físicas, visto que não há qualquer garantia de segurança a estes profissionais.

 

Enquanto os "representantes do povo" continuarem jogando a responsabilidade sobre os ombros dos médicos, que são tão vítimas do descaso quanto a população, o poder público permanece acomodado, inerte perante a situação caótica em que se transformou a Saúde.

 

Temos plena consciência que faltam médicos, sim. Mas médicos interessados em assumir as vagas nos hospitais e clínicas da Prefeitura pelos salários aviltantes, pelas péssimas condições de trabalho, pela falta de equipamentos, pela falta de segurança. Existem buracos nas escalas de médicos, sim, independente de ser segunda-feira, terça, final de semana, carnaval ou não. As escalas estão incompletas e o próprio Sindicato dos Médicos já denunciou essa triste realidade, embora nada de concreto tenha sido feito até agora.

 

O vereador deveria cobrar dos gestores, responsáveis pela administração do sistema de saúde, para que ofereçam condições de trabalho dignas em respeito aos profissionais de Saúde e à própria população. Não podemos admitir que "representantes do povo" se utilizem dos meios de comunicação, para fazer discursos vazios, dizer que vai fiscalizar se o médico está trabalhando ou não no carnaval. Pode ter certeza, caro vereador, com exceção de um ou outro imprevisto, os médicos escalados estarão trabalhando pela população, mesmo sofrendo na pele, dia após dia, o descaso do poder público com a Saúde. E caso o vereador não encontre médicos nos hospitais que visitar, cumpra com seu papel de representante do povo e questione o gestor porque este não supriu a escala com profissionais para que a população seja assistida de forma eficiente.


Leonardo Eulálio de Araújo Lima

Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Piauí